O quão bom seria apenas sentar e escrever? Sem julgamentos, ninguém olhando. Com expectativas baixas, ou melhor, rasteiras. Lá no subsolo. Pintar com letras e frases uma página que estava em branco. Chegar até o fim da tela do meu monitor e não voltar atrás.
Um dos maiores problemas que tenho ao escrever é concluir histórias. Ideias não me faltam, elas aparecem todos os dias. Às vezes na cozinha, outras quando acordo. Tem dias que meus sonhos são tão bons que eu gravo um áudio. Eles são maravilhosos até eu acordar, lavar o rosto e ouví-los.
Tenho vários contos e noveletas abertos em meu Google Drive. Histórias sobre carros amaldiçoados e cachorros bem alimentados. Uma saga de um caranguejo tentando voltar ao mangue que ele chama de lar ao lado de um siri inconveniente. Aventuras espaciais em galáxias inalcançáveis apenas em distância física. No final, todas elas são iguais. Inacabadas.
E não tem para onde correr, escrevemos sobre o que somos. Eu sou aquela pessoa que se empolga fácil e abraça um milhão de ideias. Tomo todas para mim e não levo adiante. Não concluo. Minha vida é uma eterna espiral de pendências. É muito poderia ser, quem sabe ou um dia eu termino.
Por mais doido que possa parecer, escrever tem sido a única atividade constante nesse Março de 2020 que nunca acaba. Sei lá, tem pouca gente olhando ou julgando. Não é como se todos aqui estivessem no mesmo barco, mas estamos na mesma maré e as ondas são mais tranquilas e constantes do que na vida real. E mesmo sem prancha, eu sei pegar jacaré.
E sabe o melhor? Acabei de ter mais uma ideia. Agora vai! (Spoiler: não vai).
👀 Texto originalmente escrito no dia 20 de Março de 2020, quando tudo parecia sem saída e o mundo se fechava dentro de minha casa.
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