Resolvi dar um mergulho no passado. Foi horrível. Lembrei de todas as coisas que dizia e pensava. Algumas embaraçosas, outras que deixaram aquela saudade triste que bate no fundo do peito. Rotinas que desapareceram sem avisar e se tornaram lembranças.
Às vezes, fico preso lá atrás, nas mesmas músicas que ouvia há já nem sei quanto tempo. Parece que elas me acompanham a vida inteira. Nem dá para dizer que juntaram poeira. Não dá tempo. Elas não somem; chegam, ficam, voltam.
Em algum lugar do passado, é tudo igual, nada se move. Fica ali no canto da sala, esperando você chegar. Como naqueles jogos onde os personagens só têm um lado, uma verdade. Você vai e volta quantas vezes quiser, e eles vão lhe dizer sempre a mesma coisa.
Das lembranças que colhi nesse último mergulho, as que mais me intrigaram foram as de coisas que nem aconteceram. Algumas eu inventei, outras brotaram como mato que aparece quando você joga sementes na terra e esquece por um tempo.
As melhores sempre ficam. Outras são mais ariscas; só retornam com a combinação certa, uma que você só vai lembrar quando acontecer novamente. Um refrão antigo, um cheiro, uma batida, um arrepio que toma conta do seu corpo. Uma sensação, uma visagem.
Saudade é boa quando fica lá. Se voltou e ficou, é hora de colocar uma vassoura atrás da porta. Deixar ‘escapar’ que vai precisar ‘ir ali’. Inventar que lembrou de algo tão urgente que vai precisar sair já, sem ter nem tempo de trocar de roupa.
📷 Foto por Foto de Harold Wijnholds na Unsplash
📅 Originalmente escrito em 13 de Agosto de 2023