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Saída Rápida Pela Esquerda

3 mins
Contos Scifi Salvador
Contos Soteropolitanos - Este post faz parte de uma série.

— Próximo!

— Bom dia meu rei.

— Senhor, por favor. Pode seguir o corredor e virar à direita.

O processo seletivo para acessar a República da Asa Branca não era difícil se você tivesse o mínimo de noção. A entrada para os habitantes do Brasil do Sul mais utilizada vinha de Minas Gerais e tinha em Cândido Sales o seu posto de acesso para triagem.

Além dos documentos pessoais, uma pequena entrevista era realizada para verificar se a pessoa era merecedora de acessar o país recém formado pelo Consórcio Nordeste. Das mais de duzentas requisições que apareciam por dia, apenas uma dúzia delas eram aprovadas.

Devido a essa baixa taxa de aceitação, a fila era popularmente conhecida como “trenzinho da sacanagem.

— Próxima, por favor.

— Bom dia, aqui estão meus documentos.

— Qual o motivo da visita, senhora?

— Vim para a benção do Olodum.

— Que é que dia mesmo?

— Sexta. Sexta-feira.

— …

— Né?

— Pode seguir o corredor e virar a direita senhora. Boa diversão.

Duas vezes ao dia, alto-falantes ecoavam a voz da Maga Margareth Menezes cantando Faraó. Assim que ela puxava o refrão “Eu falei Faraó ó óoooo” havia uma pequena pausa no som para esperar o retorno dos candidatos. Todos aqueles que não repetiam “Êee Faraóooo” eram convidados a se retirar e tentar um outro dia.

Quando faltava pouco menos de vinte pessoas para encerrar o expediente, chegou a vez de um casal de jovens vestidos com o manto do Santa Cruz.

— Boa tarde, viemos acompanhar um dos maiores clássico do país.

— Depois do Ba x Vi?

— Por isso eu disso um dos. Respondeu a moça se antecipando ao hesitante jovem que lhe acompanhava.

— Vocês terão que correr, viu? O jogo é hoje a noite e ainda tem muito chão pela frente.

— O carro já está com o trajeto sincronizado, pagamos todas as taxas e vai dar tempo sim moço. Vi… Visse?

— E o Santa vai jogar contra quem mesmo?

Náutico. Respondeu o rapaz de bate-pronto.

— O grande Leão da ilha.

— Isso!

— Ok, é o suficiente, podem seguir o corredor e virar a direita.

O atendente, cansado de um longo dia de trabalho, olhou por um momento o casal caminhando sorrindo antes de chamar os próximos.

— Pode vim família.

— Boa tarde, aqui estão os documentos, incluindo a certidão de nascimento dessa jovem mocinha que tá doida pra ver o mar.

Espírito Santo?

— Sim, mas moramos em Minas, a pequena aqui nasceu em Teófilo Otoni.

— Sim, tô vendo. Gostam de moqueca né?

— Bastante, bastante…

Qual o principal ingrediente de uma boa moqueca?

O senhor suou um pouco, dava para ver sua pele avermelhando em caroços e manchas que lhe tomavam todo o pescoço. Ele secou as mãos na camisa, respirou fundo e respondeu:

Dendê?

— Muito bem! Sejam bem vindos família. No final do corredor vocês vão virar para a esquerda.

Antes de seguirem o caminho indicado, pararam por um instante ao ouvirem gritos de horror vindos da outra porta. Se benzeram e, antes que a mãe da pequena Valentina girasse a maçaneta, a porta abriu e uma luz intensa preencheu todo o corredor.

Em meio a um mar de sorrisos e muitas boas vindas recebidas, um rapaz gritou do outro lado:

Bebeu água?!


🪬

Esse conto eu publiquei originalmente no dia 14 de Julho de 2020. Essa semana tava vendo um desses vídeos curtos no instagram, e tinha uma moça encenando com algumas falas iguais até. Me lembrei do meu texto na hora, alguns amigos também, mas não é uma ideia tão fora da caixinha que nenhuma outra pessoa pudesse ter 😊.

Contos Soteropolitanos - Este post faz parte de uma série.

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