Ela entrou na loja certa que o universo a acompanhava na cocó, embora não soubesse o porquê. Apenas um vendedor, novato, a abordou.
— Posso ajudar?
— Melhor, não — Karin respondeu, tentando não ser grossa.
Ela só queria mel de vespas mandarinas, uma tarefa simples para qualquer pessoa, menos para ela. Assim que esticou o braço, antes mesmo de tocar no produto, tudo veio abaixo.
O novato se desdobrava para segurar os produtos como quem tenta empilhar cartas num vendaval. Não importava o lado que ele fosse, tudo se espatifava no chão.
— Isso acontece sempre que ela vem aqui, não se assuste — disse um dos antigos vendedores, tentando confortá-lo.
Karin sorriu de canto, pegou o pote de mel que rolou em sua direção, ignorando a lixeira que rachou ao seu lado, vazando chorume, e os eletrodomésticos que faiscavam, iniciando um pequeno incêndio.
Pagou em cédulas (só ela ainda fazia isso) depois de não conseguir com crédito, débito, digital, sopro e sorriso na câmera.
Ao sair da loja – no meio de um temporal que surgiu do nada –, um homem com um sombrero colorido se aproximou:
— Karin?
— Talvez? Quem pergunta?
— Escritório de Anomalias Caóticas. Você tem um talento.
— Isso? — Karin apontou para o que restou da loja.
— Sim, chamamos de Fator K. Faz parte do equilíbrio universal.
— E como faço isso parar?
— Não, está doida? Se você parar, seria o fim de tudo.
O mundo ao seu redor parecia estar equilibrado numa bandeja, carregado por um palhaço bêbado num monociclo.
— Viu.
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Foto de Matheus Bertelli
Descrição da imagem: Mulher jovem, branca, de cabelos castanhos claros segurando um jornal pegando fogo.