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Depósito de Luzes Excedentes

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Meu relógio marcava 3:47, eu só não sabia há quanto tempo os ponteiros estavam parados. Filetes de luz atravessam minúsculos pontos que descem do teto criando cones de poeira brilhantes que dançam no ar.

Tudo cheira a ferrugem e lembranças. Tateando nas sombras, com alguma dificuldade consigo observar containers enormes empilhados. A distância que consigo percorrer não é muito grande, e é difícil com todos aqueles fios saindo de dentro de mim.

Cada movimento meu ecoa pelo concreto frio. Há sussurros na parede — ou seriam vibrações? Um dos containers parece emitir uma frequência diferente dos demais. Eu empurro com dificuldade sua tampa, só um pouquinho e meus olhos cegam, meus braços formigam.

Estou caído no chão, coçando meus olhos, fungando o nariz. Da grande caixa aberta, um brilho (agora fraco) vaza de dentro, como vagalumes morrendo.

Eu me aproximo — o que mais poderia fazer?

Lá dentro, diversos cristais luminosos. Eu quebro um e vejo um pôr do sol no Farol da Barra. Outro tem um beijo de despedida na Rodoviária em Águas Claras.

Com a luz que eles liberam eu consigo ler a etiqueta fixada no grande caixote de metal enferrujado: Depósito de Luzes Excedentes.

É aqui que eles nos tiram tudo. Nos chupam até não sobrar mais nada.


📸 Ambiente industrial escuro, containers empilhados, feixes de luz atravessando poeira no ar e cristais brilhando fracamente no chão. Sensação de abandono, memória e extração de energia.


Literoutubro 2024
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